Hoje minha amiga me mandou um email com um texto dela falando sobre a Copa do Mundo. E com a sua licença vou postá-lo aqui, pois concordo plenamente com cada palavra e ideia. Espero que gostem!
"A pátria em chuteiras"
por Graziele de Almeida Freitas
Em meio à euforia provocada pela chegada de mais uma copa do mundo eis que uma criança de seis anos (ainda muito jovem pra entender o sentimento nacionalista que envolve a maioria dos 190 milhões de brasileiros) ouve uma palavra que até então lhe era desconhecida e me lança a pergunta: - O que é patriotismo? Eu achando graça respondi: - É uma coisa que a política inventou pra fazer com que o povo se apaixone por uma idéia e esqueça por um tempo o quanto é miserável.
Naquele momento as pessoas que ouviam minha conversa com o pequeno me olharam assustados como se observassem um herege prestes a ser julgado pela inquisição. O silêncio era constrangedor e eu me sentia um traidor que não honrava o juramento cantado pelo nosso hino nacional. “Verás que o filho teu não foge a luta. Nem temem, quem te adora, a própria morte” Piada, eu jamais morreria em nome de um país... pensei!
Enquanto eu refletia a respeito da explicação que havia dado ao menino ouvi alguém responder: - Não filho, patriotismo é amor que a gente sente pelo nosso país.
Naquele instante pude ouvir o Cartola a cantarolar “de cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notar está à beira do abismo...” Me retirei pensando também em Nelson Rodrigues que nos deu o título de “a pátria das chuteiras” e desenhou em suas crônicas um futebol grandioso, arrebatador. Para ele o futebol era “a busca pela poesia” e o brasileiro tem “uma fome e uma sede de bola”
A copa do mundo paralisa boa parte do mundo e no Brasil em especial, milhões param qualquer atividade para acompanhar as batalhas da “seleção canarinho”. As diferenças de classe e raça são esquecidas e todos seguem uma mesma religião chamada futebol. É durante a copa do mundo que as pessoas percebem que são cidadãos do país, inventa-se uma identidade nacional em que o maior símbolo é o futebol. Durante a copa do mundo os problemas sócio-políticos são camuflados de verde e amarelo, de acordo com o historiador Eric Hobsbawn vencer a copa deve certamente beneficiar o regime político de um país como aconteceu no Brasil (1970) e na Argentina (1978) que ao serem campeões mundiais a ditadura militar dos respectivos países utilizaram o futebol como mecanismo para massagear a auto-estima da população subjugada pelo autoritarismo.
Ao vencer a copa realizada no México e se tornar a primeira seleção tricampeã mundial por 4x1 a imagem da seleção brasileira passou a ser explorada pela propaganda do governo de Médice, responsável por uma das fases de maior repressão na história política do Brasil. O governo do general Emílio Garrastazu Médice (1969 a 1974) perseguiu, torturou e eliminou centenas dos chamados “subversivos” momento também em que a oposição em protesto partiu pra luta armada praticando atos considerados terrorismo aumentando ainda mais os índices da violência provocada pela ditadura, mas, tudo era feito por amor a pátria o que ficava em evidência nos slogans de campanha “ninguém segura este país” “Brasil; ame-o ou deixe-o”.
A copa na África do Sul não se mostra diferente das outras nesse aspecto, é como se os problemas políticos e sociais adormecessem enquanto o país respira futebol. A mesma nação que viveu de 1949 a 1990 o “apartheid” e só em 1994 realizou sua primeira eleição livre comemorou no jogo de abertura realizado no estádio de Soweto (bairro historicamente destinado aos negros) a reconciliação entre brancos e negros, constituindo uma identidade nacional para o povo de “Madiba” nosso conhecido e admirado Nelson Mandela.
Fazendo uma analogia a Karl Marx o futebol se constitui como o “ópio do povo” uma vez que, rouba as atenções tornando a luta pela solução dos problemas secundária. No Brasil a corrida a presidência e ao senado já começou, mas nosso povo calçou as chuteiras e foi para a África do Sul rumo ao hexa, quando voltar talvez pense naquele que poderá ser o melhor presidente.
Alienados ao não, até mesmo os mais radicais se tomam um pouco técnicos e esperam o melhor desempenho dos atletas. Quanto a mim, já vesti minha camisa amarela e até pintei as unhas de verde, afinal também faço parte dos 190 milhões em ação (“pra frente Brasil” “brasileiro não desiste nunca”) muito embora, concorde com Hobsbawn que posso entender o apelo deste tipo de patriotismo, mas não tenho entusiasmo algum pelo nacionalismo.
Referências:
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=842http://educacao.uol.com.br/historia/ult1704u96.jhtm
http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=16&id=152
Beijos e Boa semana à todos.
Em breve postarei textos meus...
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